1ª
[um elevado à potência feminina]
.doc pensar
[o word acabou de me oferecer como único sinónimo de activa a palavra agenciadeira.]
grande idiotista
judite, risquei-te da lista. vais ter com a avillez. apago-te até dos items eliminados. qual comendada qual quê, uma qualquer! brutandade a pisar flores.
foi das entrevistas mais triste a que assisti. sufocou a palavra do senhor. a ganância foi atroz. foi tudo de uma agressividade indecente e correu mal. e eu ainda estou estupefacta. foi mau e na altura fiquei atrapalhada por ele. se ninguém to disser, olha, disse-to eu.
voz off
já sei, já sei, já sei! depois de um mês a tentar lembrar-me do nome daquele nariz. bem, mais das bochechas mas também do nariz. o nariz do apelido e o apelido do nariz familiar. vi-a o mês passado, no combio. não me viu ou outra coisa assim. também só a confirmei no espelho do vidro. o nome é nítido, como o meu, e ela também, que eu sei bem quem é. amiga de amigos ao longe. e agora o apelido? eu sabia perfeitamente. e agora? nunca chegámos a falar muito. embora gostasse dela, gostava assim com a distância que guardo daqueles de quem gosto logo e admiro, me admiro, à primeira. não lhes falo o mais das vezes. não quero estragar nada e/ou/talvez não me chego não vá pensar que sou parva ou que ali me interessa alguma coisa para lá do que realmente é verdade. mas o apelido nada. nem sinal. nem pista, tirando o facto de não ser comum. a semana passada vi-a numa montra do bairro alto. voltei para trás a confirmar e afinal já não era. e hoje, no meio de outras folhas públicas ei-la, ali sem mais nem menos afinal era. era mesmo; ela a rir-se de lado e eu a procurar furiosamente o nome dela no meio do texto. ufa, foi uma secura senil. mas agora já está
bom génio
numa escala de 0 a 30: tudo
o poder da compra
ainda antes de acabar de subir as escadas, já lhe oiço os pregões. velhote nada meigo despacha meias e chapéus a três cada.
espantosa foi a abertura de goela hoje quando anuncia a qualidade da coisa, de guarda-chuva em riste, com o seguinte cantar: olhem que isto é bom, isto dá para matar uma pessoa.
toda a verdedade
um estoiro de riso e eu pergunto com mais siso a conter-me como posso comer-me. e diz-me ela assim: que é como o nabo. há quem a troque pelo nabo na sopa. sim, a pimpinela come-se na sopa. às vezes em vez do nabo. porque são parecidos. a auto-descoberta é uma coisa gloriosa.
principalmente
dias de preparatório, oitavo ano, em visita de estudo. conferências. foi seleccionada para ir. dois dias uma noite. não era longe mas dormia-se. feliz com a eleição e sem vaidade mas contente por ver o empenho reconhecido, que o discernimento nesta idade já permite considerações destas. o primeiro dia acaba com a animação a trepar para a animalação e sem vontade de assistir vai deitar-se a pensar nas circunstâncias. tem 14 anos e acorda com pasta de dentes espalhada por todo o cabelo. alguém achou piada. sem lhes dar a esmola tomou banho, vestiu-se e quis sair dali mas não pode. um dia inteiro e o autocarro às cinco. não colaborou e não quis nem soube discutir o assunto. fez o seu trabalho não falou com ninguém porque não precisou. ninguém falou mas os outros olharam de lado. também ninguém perguntou nada. se o nervo toca a pele, está-se à altura daquilo que lhe acontece e punho cerrado que daqui não sai a indignação que revolve o estômago e amachuca o peito. no fim do dia, com todo o embora a salvar e saber bem, a professora de quem mais gostava e a mesma que a escolhera senta-se ao seu lado e quer saber a causa da abstinência. sem haver resposta a dar, pode ouvir-se a calma voz baixa com que lhe relata a acusação de infantilidade e má criação e a sentença de que provavelmente não deveria ter vindo. mas indo a procissão neste ponto já nada pode mudar nada, nem se tem vontade e acaba assim.
conta-se assim ao longe porque foi há muito tempo. e não foi totalemente inútil. e hoje lembrei-me. não conto para expor a feiura desta mulher com quem ainda hoje me cruzo e a quem não falo, nem tão pouco a alarvidade juvenil. na verdade este é um trauma que não serve para muito, nem quando contado. vivia bem sem ele mas foi um sapo que cuspi depois de tomado o sabor.
é porque as pessoas são complexadas. e eu percebo. mas é pena e faz estrago às vezes.
e porque detesto o estoicismo à la estúpida que me torna decorativa e me mostra cretina mas que nem sempre consigo evitar.
conto assim com vergonha. se calhar conto para ultrapassar o luto que sinto de cada vez que falo seriamente sobre mim.
mas principalmente porque há 6,800,000,000 pessoas a pisar o planeta. e eu levo isso em conta.
muito porco ou nada
[não sei trocar as palavras até que sejam poesia, inverter-lhes o sentido de maneira a que tenham de as juntar por mim. eu ponho-as na mesa e o jantar está servido. também sei pouco de tudo. e dos outros e da vida dos outros. e já sei demais. demasiado fica melhor. parecido com semelhante em vez de parecido. tem graça a maneira, ai, o modo, como se fala do nosso/seu semelhante. é feio comparar, mas termos mesmo de comparar com parar para poder ver melhor. porque está tudo na perspectiva. só que ainda não disseram a todos que se pode aumentar a abertura e o tempo de exposição. e que a vida vem com coisas agarradas a ela. mas isso depois é com cada qualma. nem venho de outro lado que não o meu, venho daqui do lado, do paralelo, dos que se sentam no passeio a olhar sem fazer barrulho, mesmo quando arrumam os papéis. e o contexto é um problema. mas também o resto e a banda marcha. e o abstracto é quando o estrato foge, nos tiram o tapete ou se vai num que voa. sem solo mas muito a solo no sem fundo que no fundo é fundo sem fim. não me safo com o meu ar. tenho cara de parva e sou comida tal igual. qual quer que seja quer não. um pé na terra e outro de chumbo. e a banda marcha]